
Minicursos
Quarta-Feira (16/10)
De 10:30h às 12h:
O DESMISTIFICAR DA LEITURA: A LIBERTAÇÃO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE
EMPERRAM A FORMAÇÃO DE LEITORES
Como transformar a experiência escolar de leitura e incentivar o amor pelos livros
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O minicurso "O Desmistificar da Leitura: a Libertação de Práticas Pedagógicas que Emperram a Formação de Leitores" visa explorar a maneira como a leitura de livros extraclasse é abordada nas escolas e identificar quais práticas habituais docentes, ou estabelecidas pelo próprio sistema escolar, interferem negativamente na formação de leitores eficazes. Trata-se de uma problemática relevante, uma vez que, de acordo com o professor Ezequiel Theodoro da Silva, “a escola tornou-se e ainda é a principal instituição responsável pelo ensino dos mecanismos (ler e escrever) que permitem o acesso da criança ao mundo da escrita ou aos registros da chamada cultura letrada” (SILVA, 1983, p. 99). No entanto, métodos pedagógicos convencionais, muitas vezes, podem restringir o potencial leitor dos estudantes, impondo um modelo que não apenas desencoraja, mas também desmotiva o engajamento com a leitura. Sendo assim, este minicurso pretende propor mudanças para reverter essa tendência ao focar em estratégias e abordagens inovadoras que valorizam e estimulam o prazer de ler. Dessa forma, haverá dois momentos principais: 1) a análise crítica das práticas pedagógicas habituais que não contribuem para a formação de leitores e 2) a exploração de métodos alternativos que podem revitalizar a experiência de leitura na escola. No tocante ao primeiro momento, consideraremos como métodos habituais, tais como listas obrigatórias de livros e avaliações baseadas em testes, aqueles que podem limitar o interesse genuíno dos alunos pela leitura. Será discutido como essas práticas frequentemente transformam a leitura em uma atividade obrigatória e estressante, em vez de um prazeroso ato de descoberta. Com muita propriedade, o mesmo Ezequiel Theodoro defende que estas atividades, “ao invés de incentivar o hábito da leitura, muitas vezes fazem com que o aluno adquira outro hábito: o de ler para preencher a ficha, quase sempre dentro de esquemas semelhantes e rotineiros” (SILVA, 1983, p. 101). Ademais, avaliaremos o impacto dessas práticas na psicologia dos estudantes e em seu desenvolvimento como leitores autônomos. Concernente ao segundo momento, apresentaremos estratégias para criar ambientes escolares que promovam o amor pela leitura, incluindo a seleção de livros diversificados e a criação de espaços confortáveis e atraentes. Discutiremos métodos inovadores que incentivam a participação ativa e o engajamento dos alunos, dentre eles a importância de permitir escolhas livres de leitura e como elas podem aumentar a autonomia e o entusiasmo dos estudantes. Consideramos esse último aspecto muito importante, pois segundo ratifica Leonor Werneck dos Santos, “pode-se proporcionar ao aluno uma variedade de leituras e a possibilidade de se sentir o agente do ato de ler...” (2005, p. 11). Além disso, consideraremos também como as ferramentas digitais e plataformas online podem ser utilizadas de forma a complementar a leitura tradicional, tornando a experiência mais interativa e atraente. Por todos esses pressupostos até aqui levantados, o minicurso será destinado a alunos da graduação e da pós-graduação em Letras e a educadores em geral interessados em aprofundar suas pesquisas e a transformar a abordagem da leitura escolar por intermédio da promoção de experiências leitoras mais ricas e prazerosas para seus alunos.
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Eduardo da Costa Freires
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LITERATURA CONTEMPORÂNEA EM LÍNGUA DE SINAIS: O SLAM SURDO NA
CENA DISCURSIVA BRASILEIRA
A literatura em Língua de Sinais (LS) tem ganhado crescente reconhecimento como uma forma legítima de expressão artística e literária (Abrahão, 2020; Ramos; Abrahão, 2018). No esteio contemporâneo, o Slam Surdo, uma modalidade de slam adaptada para a LS, oferece uma perspectiva instigante a respeito da interseção entre literatura, performance e identidades surdas, a qual se materializa, sobretudo, por meio do discurso sinalizado e/ou bilíngue (Sutton-Spence; Ladd; Rudd, 2005). Nesse sentido, a presente proposta de minicurso visa a (i) preencher uma lacuna na pesquisa sobre como a literatura em LS, particularmente o slam, se insere nos discursos “do” e “sobre” o contemporâneo e (ii) demonstrar a necessidade de ampliar a compreensão acadêmica e pública sobre as contribuições literárias das comunidades surdas. Para tanto, propõe-se uma imersão na literatura contemporânea em LS, com foco especial no “fenômeno”, por assim dizer, do Slam Surdo no Brasil. Conforme Bueno (2023), o slam, uma forma de competição de poesia performática, emergiu como uma materialidade prototipicamente engajada, o que se mostrou, no âmbito da contemporaneidade, compatível com as demandas políticas e estéticas das comunidades surdas, há muito silenciadas inclusive no domínio literário. Baseando-se em Sutton-Spence (2014) e Sutton-Spence e Quadros (2006), este minicurso partirá da premissa óbvia, porém pouco discutida na academia, de que a literatura em LS não é apenas uma tradução da literatura em línguas orais, mas uma forma distinta de expressão que carrega uma estética própria e uma gama de narrativas culturais atreladas às características visuais, espaciais e multimodais dos discursos em LS, como a Libras. Aqui, interessa-nos refletir e debater como a interseccionalidade dentro da comunidade surda se materializa na poesia slam, interpelando aspectos como gênero, raça e classe social, e como esses fatores influenciam e são refletidos na literatura e nas performances contemporâneas em LS, tendo como principal pressuposto uma ideia de performativo para a qual performances não apenas comunicam ideias, como também constroem e desafiam significados sociais e culturais aparentemente estáveis por relações assimétricas de poder (Butler, 2003). Através de análises teóricas e estudos de slammers surdos que vêm se destacando na cena contemporânea brasileira, como Catharine Moreira, Gabriela Grigolon, Paulo Andrade e Edinho Santos, este minicurso pretende fomentar possibilidades de leituras sobre os pares dicotômicos corpo e discurso (Courtine, 1999), memórias e identidades (Hall, 2006) e línguas e culturas (Foucault, 2014) na literatura contemporânea, de modo mais abrangente, e na literatura em LS, de modo mais específico, endossando a importância do Slam Surdo no arcabouço discursivo que caracteriza o contemporâneo no Brasil, conforme sugerem Araújo e Nascimento (2021).
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João Paulo da Silva Nascimento
Fabio Carlos Noret Junior
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Poesia e contracultura na virada dos anos 60: O Pós-Tropicalismo
Gilberto Gil e Caetano Veloso foram exilados pela ditadura militar brasileira em 27 de julho de 1969, pondo fim no intenso processo colaborativo entre as artes que se estabeleceu no biênio 1967-68 e que ficou conhecido como Tropicalismo. A onda de repressões, encarceramentos e exílios que se abateram de maneira traumática sobre essa geração de criadores como efeitos autoritários do AI-5, provocou, num primeiro momento, a dispersão forçada de artistas e intelectuais, para no momento seguinte, produzir uma reorganização de forças criativas em torno de novos atores. Exilados, Gil e Caetano deixaram Gal Costa como a protagonista das ideias tropicalistas no Brasil. Neste minicurso, serão abordados de que modo ocorre essa mudança de protagonismo e como uma estética de enfrentamento, que incorpora os elementos contraculturais do rock e da liberação do corpo, entra em cena no momento mais repressivo da ditadura militar, sob os governos Costa e Silva/Medici. No minicurso, serão abordados aspectos formais das colaborações de Gal Costa com o músico Jards Macalé e com os poetas José Carlos Capinan, Duda Machado, Waly Salomão e Torquato Neto, por meio de audições e análises de poemas musicados, a fim de examinar as tensões de época em cena e compreender em que medida essas narrativas apontam para um “estreitamento dos horizontes da vida cultural brasileira e da concomitante crise de expressão”, como observado por Viviana Bosi (p. 113, 2021) Para Paulo Henriques Britto, os exílios, prisões e violências impostos pela ditadura exerceram uma inflexão na temática das canções do período, que passaram a adotar uma perspectiva mais intimista e subjetiva, dando “lugar a uma postura de desencantamento e desânimo”, privilegiando “temas como o medo, a solidão, a derrota, o exílio e a loucura” (BRITTO, 2003, p. 3). Por outro lado, o desbunde e as práticas contraculturais se colocaram como uma outra via de contestação da juventude da época, que não aderiu ao ideário político da luta armada contra o regime ditatorial. De fato, se compreendermos o Tropicalismo como um momento, como propõe Flora Süssekind, em que a produção cultural brasileira teve intensa convergência e contaminação mútua, num esforço de ruptura e tomada de posição (SÜSSEKIND, 2007, p. 31) e que foi fraturada pela ditadura militar, sobretudo a partir do AI-5, torna-se possível pensar nesse movimento de reaglutinação dos novos artistas supracitados ao redor do trabalho de Gal Costa, com estética e performances mais agressivas, como “Pós- tropicalismo”, para além da mera noção de marcador temporal ou apenas um sinônimo de Contracultura. Esses serão os tópicos a serem abordados e discutidos neste minicurso proposto.
Márcia Cristina Fráguas
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“ONDE O POVO FEZ HISTÓRIA / E A ESCOLA NÃO CONTOU”:
CONTEMPORÂNEAS VOZES NEGRAS A RECONTAR UM BRASIL
Este minicurso tem como objetivo principal a análise da produção literária afro-brasileira, especificamente por meio de contos e poemas, em diálogo com as teorias decoloniais e contracoloniais. Para tanto, serão examinadas e discutidas obras de autores como Conceição Evaristo e Geovani Martins, bem como poesias de Jarid Arraes, Miriam Alves e Cristiane Sobral. O curso também se dedicará ao estudo da recepção dessas produções em três contextos educacionais distintos: uma turma de ensino médio em um bairro periférico do Rio de Janeiro, uma segunda turma de ensino médio em um bairro da Zona Sul da cidade, e uma turma de graduação em Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro, todas sob a orientação do proponente deste curso. Inicialmente, o curso propõe-se a utilizar perspectivas decoloniais para a análise das obras selecionadas. Em seguida, serão desenvolvidas reflexões acerca de: 1) como integrar temáticas raciais em diferentes ambientes escolares; 2) como mediar a recepção dos alunos; e 3) quais nuances emergem ao se considerar diferentes públicos e contextos educacionais. As obras “Não vou mais lavar os pratos” (2010),”Olhos d’água”; (2014), “O sol na cabeça”; (2018) e “Um buraco com meu nome”; (2021) serão abordadas por meio da leitura e análise de um conto ou poema de cada livro, com o objetivo de investigar questões raciais e os procedimentos literários na produção de autores negros, com ênfase na representação da violência no campo ficcional. Essa análise será realizada em conjunto com os estudos de renomados pesquisadores como Antonio Candido, Cida Bento, Eduardo de Assis Duarte, Rita Segato, Sueli Carneiro e Vania Maria Ferreira Vasconcelos, que se dedicaram ao estudo da produção cultural e literária em um Brasil marcado pela exploração colonial e seus desdobramentos contemporâneos. O curso também buscará mapear os silêncios presentes na formação do cânone literário brasileiro, identificando os agentes que contribuíram para tais omissões. Dessa forma, diferentes eus-líricos e narradores serão comparados com o intuito de evidenciar as fissuras sociais e as marcas da exploração de corpos negros, conduzindo a análise de suas representações ficcionais e da relação entre a literatura contemporânea e os discursos de negritude – compreendendo o contemporâneo como um campo de disputas, conforme proposto por Giorgio Agamben (2009). Por fim, será debatida a atuação dos professores em espaços de fala e escuta, destacando a importância de uma pesquisa que transcenda o campo acadêmico e se estenda ao ensino e à extensão. Assim, será reconhecido que discussões emancipatórias e de cunho contra-hegemônico se tornam cada vez mais relevantes em um cenário em que a literatura afro-brasileira desempenha um papel fundamental na representação da realidade e no questionamento das estruturas de poder.
Kaio Rodrigues
Quinta-Feira (17/10)
De 10h às 11:30h:
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METÁFORA E FEMININO NAS CANÇÕES BRASILEIRAS: UMA ABORDAGEM
TEÓRICO-PRÁTICA À LUZ DA TEORIA DA METÁFORA CONCEPTUAL
Tendo em vista a importância dos debates contemporâneos acerca feminino para a compreensão da sociedade, cultura e ideologia, o presente minicurso analisa a relação entre o conceito de feminino e as metáforas e metonímias utilizadas em canções da música popular brasileira em diversos momentos históricos e artísticos. À luz da Teoria da Metáfora Conceptual – TMC – (LAKOFF; JOHNSON, 2002 [1980]), o curso também trabalhará a construção sociocognitiva envolta no processo de conceptualização, objetivando demonstrar o poder explicativo da Teoria da Metáfora Conceptual para pesquisas e análises de corpus plurais, além do auxílio no estudo de conceitos socioculturais. Inicialmente, apresentaremos os resultados obtidos através de pesquisas anteriores realizadas pelas proponentes do presente minicurso. Os gêneros previamente estudados foram o funk e samba cariocas, com canções de autoria de Anitta, Dennis DJ, Lexa, Ludmilla, Pocah, representando o funk carioca e Dudu Nobre, Mart'nália, Mumuzinho, Dilsinho, Martinho da Vila enquanto artistas do samba da cidade do Rio de Janeiro. Os estudos prévios demonstraram uma latência da metonímia PARTE PELO TODO, onde partes específicas do corpo feminino surgiam para conceptualizar tudo o que representa o indivíduo. A partir da explanação do contexto científico já existente, dos dados encontrados e as partes do corpo humano que surgem enquanto relevantes para compreensão de gênero, busca-se através de uma abordagem teórico-prática, identificarmos e debatermos com os participantes do curso tal relação de representação feminina em gêneros musicais diversos, sejam eles cariocas ou não. Com isso, pretende-se demonstrar a forma com que tais expressões artísticas populares podem ser uma interessante fonte de informações acerca da influência da música popular sobre as percepções de gênero na sociedade, além de debater as relações de tais conceptualizações artísticas com questões presentes na contemporaneidade. Dessa forma, esperamos, com presente minicurso, discutir a relação entre linguagem, corpo, cultura e pensamento na produção e compreensão de fenômenos sociais, como a questão do gênero feminino. Ao final, objetiva-se que os participantes, através da prática executada, consigam identificar metáforas e metonímias presentes no cotidiano, seja ele artístico ou não; e, com isso, possam também compreender as implicações presentes em tais utilizações em seu dia a dia.
Laura Mariana de Jesus de Brito da Costa
Fernanda Carneiro Cavalcanti
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UNINDO A LEITURA E A GRAMÁTICA NA SALA DE AULA
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A prática da leitura como fonte de prazer e entretenimento tem sido parte da vida da civilização humana há muito tempo, proporcionando às pessoas a oportunidade de adquirir novos conhecimentos e explorar mundos desconhecidos através da imaginação. No entanto, a realidade da leitura no Brasil hoje contrasta com essa visão, já que uma parte significativa da população é composta por analfabetos funcionais. Este minicurso, portanto, propõe caminhos para o trabalho com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, visando aproximá-los da leitura literária e do ensino de Língua Portuguesa. O foco está em relacionar a interpretação de textos com o uso gramatical e expressivo de certos elementos linguísticos — mais especificamente, os efeitos de sentido atribuídos pelos substantivos presentes nos cinco contos da obra Vendedor de Sustos, de João Anzanello Carrascoza (2014) — e extralinguísticos. Nesse contexto, serão propostas atividades pedagógicas que abranjam a análise linguística aos momentos antes, durante e após a leitura, apontados por Solé (1998), evitando que o texto seja utilizado apenas como um pretexto para o estudo da gramática. Reforça-se que as análises dos contos se pautarão na perspectiva da estilística, apoiando-se em Martins (2012), uma vez que a intenção enunciativa de caráter afetivo ou de juízo de valor é responsável pela relação de sentido entre o léxico da língua, algo que os textos literários evidenciam de maneira mais acentuada. Dessa forma, pensa se ser possível traçar uma estratégia didático-pedagógica a fim de conduzir o alunado a uma leitura mais autônoma e, consequentemente, proficiente, além de diminuir o distanciamento entre ele e o ensino de língua materna, percebendo a gramática mais próxima de seu uso cotidiano a partir das relações de sentido estabelecidas na materialidade textual.
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Mariana Nunes Marinho
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QUADRINHOS COMO OBJETO DE PESQUISA: LINGUAGEM E DISCURSO
EM MOVIMENTO
O famoso quadrinista e professor de artes visuais Will Eisner (1995) classifica as histórias em quadrinhos como “arte sequencial”, considerando a estética singular que as configura como “forma artística e literária que lida com a disposição de figuras ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia” (p. 113). O autor salienta que mais do que uma simples aplicação de arte trata-se de uma “arte de comunicação”, cuja linguagem se vale da experiência visual comum do criador e de seu público, conjugando, ao mesmo tempo, as regências da arte e as da literatura. Nesse sentido, tendo como referência diferentes enfoques dos estudos discursivos, a presente proposta de minicurso tem o objetivo de apresentar um breve panorama de conceitos e possibilidades de abordagens aplicáveis aos corpora produzidos a partir de narrativas gráficas de histórias em quadrinhos. A partir de um diálogo possível entre o público-alvo da proposta – pensado como majoritariamente formado por alunos dos cursos de Letras e respectivos programas de pós-graduação – e três diferentes pesquisadores que se dedicam a esse objeto, propõe-se um momento de reflexão e elaboração teórico-prática de atividades, ancoradas em um embasamento prévio sobre os quadrinhos, com ênfase em diversos aspectos inerentes à sua linguagem. Convém lembrar que esse tipo de produção discursiva vem sendo tratada como hipergênero (Ramos, 2010), considerando que abarca diversas características comuns a um grande grupo de outros gêneros, cada qual com suas particularidades, a saber: cartum, tira, charge, graphic novel, webcomics, mangá e, ainda, possíveis subgêneros. A propósito dos mangás – identificados como “histórias em quadrinhos em ‘estilo’ japonês” (Chinen, 2013) –, optamos por examiná-los mais detidamente nesta proposta, tendo em mente sua transformação em poderosos instrumentos de soft power (Nye, 2004) após a Segunda Guerra Mundial. Como meios culturais e imaginários de atração de outros países, tais narrativas de origem japonesa impactam progressivamente o Ocidente, em uma dinâmica não centralizada entre espaço, poder e sociedade. Com efeito, a globalização e iniciativas como a Cool Japan Foundation fizeram com que os mangás se espalhassem mundialmente, especialmente no Brasil, onde estimulam percepções e interesses pela cultura japonesa e a formação de grandes comunidades dedicadas ao tema, como os Otakus e a Abrademi. Sabendo que revelam espaços desafiadores das normas culturais e identitárias dentro e fora do Japão, pretende-se ilustrar como os mangás podem ser objetos de análise profícuos e versáteis, examinando sua dinâmica de produção em articulação com alguns traços de sua materialidade narrativa. Assim, no intuito de instrumentalizar e incentivar o público-alvo a pensar de forma crítica sobre diferentes aspectos da produção e recepção de textos em quadrinhos, com destaque para os mangás, daremos relevo à produção de efeitos de sentido nesses textos, tendo em vista particularidades de signos verbais e imagéticos, os quais, em cooperação e individualmente, harmonizam-se nos recortes narrativos que serão objeto do minicurso. Como objetivo final, procura-se despertar e incentivar o público a compreender a complexidade desse hipergênero discursivo e de suas múltiplas facetas, assim como encorajar sua abordagem nas pesquisas acadêmicas da área de linguagens.
Eveline Coelho Cardoso
Rafael Schuabb
Raphael Freires Pessoa
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INTRODUÇÃO AOS PROLEGÔMENOS: A TEORIA DA LINGUAGEM DE
LOUIS HJELMSLEV
O minicurso propõe-se a apresentar os conceitos básicos contidos em um dos textos seminais da Linguística moderna e da Semiótica, a obra Prolegômenos a uma teoria da linguagem, do dinamarquês Louis Hjelmslev (1899–1965). Filho de um matemático renomado, Hjelmslev fundou em meados do século XX sua teoria linguística conhecida como glossemática, que pode ser considerada como “a primeira teoria semiótica coerente e acabada” (Greimas; Courtés, 2021, p. 238) e uma das mais influentes abordagens estruturais à compreensão da linguagem. Opondo se ao transcendentalismo linguístico de sua época, como bem aponta Fiorin (2003), levando em consideração a linguagem como um fim que se basta a si mesmo (Hjelmslev, 2013) e fazendo uso da lógica matemática, Hjelmslev concebeu a Linguística como uma espécie de álgebra e formulou sua teoria buscando construir com ela um modelo científico da linguagem enquanto estrutura, indo além da descrição fenomenológica das línguas particulares e apresentando uma abordagem cuidadosa que visa definir a linguagem a partir de seus elementos mais básicos e suas inter relações. Segundo o semiótico dinamarquês, “a todo processo corresponde um sistema que permite analisá-lo e descrevê-lo através de um número restrito de premissas. Deve ser possível considerar todo processo como composto por um número limitado de elementos que constantemente reaparecem em novas combinações” (Hjelmslev, 2013, p. 8). Portanto, para ele, com base na análise do processo, é possível reorganizar esses elementos em diferentes classes, cada qual sendo determinada pela similaridade de suas possibilidades de combinação. A partir dessa classificação inicial, o autor também defende a viabilidade de se desenvolver um cálculo abrangente e completo de todas as combinações possíveis. Durante o minicurso, serão discutidas as principais noções desenvolvidas na obra, como signos e figuras, permutação, arranjo, combinação, constantes e variáveis, a ideia de linguagem como uma rede de funções e relações (interdependência, determinações, constelações) e a distinção entre plano da expressão e plano do conteúdo, que são centrais para a compreensão da teoria glossemática. O minicurso abordará ainda o contexto histórico e intelectual em que a obra de Hjelmslev foi desenvolvida, com ênfase em como sua teoria dialoga e se diferencia das propostas de outros linguistas estruturalistas (Lima, 2010). Ao final, espera-se que os participantes sejam capazes de identificar os principais aspectos da teoria de Hjelmslev, compreendam a importância de seus Prolegômenos na tradição linguística e semiótica e reconheçam o papel dessa obra na evolução das teorias modernas da linguagem. Com uma abordagem didática e acessível, o minicurso proporcionará a oportunidade de os participantes conhecerem um dos marcos fundamentais na evolução dos estudos da linguagem e da Semiótica. Para o minicurso, cuja duração máxima se estima ser de 1h30, será necessário o uso de um projetor para a exibição dos slides que as palestrantes apresentarão.
Claudia Regina Corrêa Lins Vieira
Michelle Evangelista Garcia
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Sexta-Feira (18/10)
De 13:30h às 15h:
APRENDENDO A CONTRACOLONIZAR COM A
“GUERRA DAS DENOMINAÇÕES” DE NÊGO BISPO
Um dos instrumentos que compõem a dominação de uma nação sobre outras é a língua. A língua aqui entendida como elemento central de uma cultura e de uma sociedade, profundamente conectada à identidade das pessoas, seja individualmente, em grupo ou no âmbito nacional (Bagno, 2017). Durante o processo colonial, a imposição da língua do colonizador foi usada como uma forma de apagar tradições de povos colonizados, impondo valores e formas de pensar estrangeiras. Assim, a língua se transforma em uma poderosa ferramenta de controle e conflito político, de manipulação de ideias e de outras formas de influenciar o modo como as pessoas vivem e se relacionam socialmente. Logo, a língua também perpetua estruturas de poder coloniais. Tendo isso em mente, entendendo que, na língua, “(...) a palavra torna-se arena de luta de classes, a arena da dissidência de opiniões e de interesses de classes orientados de modos distintos” (Volochínov, 2013[1930], p. 197); e, ainda, compreendendo que a “palavra se apresenta (...) como uma arena em miniatura onde se entrecruzam e lutam os valores sociais de orientação contraditória (...), revela-se, no momento de sua expressão, como o produto da interação viva das forças sociais” (Bakhtin/Volochínov, 2006, p.66), trago à baila, como referencial teórico a ser trabalhado no minicurso aqui proposto, o cabedal de palavras trazidas pelo mestre quilombola Nêgo Bispo para uma disputa contracolonial, que nada mais é do que uma postura de resistência e valorização dos saberes, modos de vida e identidades de comunidades que foram postas à margem (quilombolas, indígenas e afrodescendentes). Comunidades essas que se contrapõem tanto à colonização quanto à imposição de valores eurocêntricos, buscando, de um lado, desconstruir as estruturas de poder coloniais e, de outro, construir novas narrativas e práticas baseadas na busca da igualdade, na defesa da justiça e no respeito à pluralidade cultural (Santos, 2015, 2023). Buscando tomar parte nessa disputa denominacional, valer-me-ei dos pares dicotômicos do mestre quilombola, os quais pertencem ao que ele denomina de “guerra das denominações”: desenvolvimento vs. envolvimento; desenvolvimento sustentável vs. biointeração; saber sintético vs. saber orgânico; transporte vs. transfluência; dinheiro (ou troca) vs. compartilhamento; cidades vs. cosmofobia; trabalho pago vs. mutirão; pensamento binário vs. pensamento fronteiriço; arquitetura colonialista vs. arquitetura quilombola; eurocristão monoteísta vs. indígenas, negros e quilombolas; escola escriturada vs. oralidade; monoteísmo vs. politeísmo; cosmofóbicos, humanistas vs. cosmológicos, diversais; e, por fim, colonização vs. contracolonização (Santos, 2023). A partir da análise dos pares supracitados, cada participante receberá um convite para mergulhar nas reflexões sobre resistência, territorialidade, religiosidade e epistemologias afro-pindorâmicas, almejando uma busca por processos de ressignificação, a partir de trocas horizontais no minicurso que, efetivamente, orientem uma lógica contracolonial. Tem-se como objetivos: (i) expor e combater a uniformização de pensamentos criada e defendida pelo eurocentrismo; e (ii) manifestar e valorizar o pensamento quilombola que nos chama à ressignificação. Entendo que esta seja uma forma de colaborar com os debates cada vez mais plurais, reflexivos e críticos voltados à transformação social eficaz que, de fato, estabeleça comunicação e confluência entre a Academia e os saberes outros.
Roberto T. de AGUIAR JR.
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OS VERSOS DO VERSO LIVRE: HISTORICIDADE E TIPOLOGIA
A consolidação do verso livre como regime poético default na contemporaneidade — em contraste, por exemplo, com o período em que o soneto se destacava como a forma predominante de fazer poesia — exige uma atenção mais detida para o continuum de práticas prosódicas que o conceito de “verso livre” abarca. De acordo com Britto (2011, p. 127), trata- se de um termo “excessivamente abrangente”, o qual “oculta diferenças entre formas muito divergentes (...) que pouco têm em comum senão o fato de não se enquadrarem nas formas poéticas metrificadas tradicionais”. Nesse sentido, faz-se necessário o esforço de compreender a historicidade e as especificidades técnicas dos principais tipos de versos livres modernos para que, assim, o debate sobre o poema possa ocorrer de modo mais objetivo, favorecendo uma identificação mais clara do que há de inovador (ou não) na produção atual e do que há de transgressor (ou não) nos usos do verso livre entre nós. Parte-se do princípio de que as diversas formas postas sob o guarda-chuva do “verso livre”, por também terem como base o discurso, são analisáveis e passíveis de descrição segundo um instrumental de versificação que vem sendo utilizado há milênios, ainda que expandido e atualizado para dar conta de descrever as experiências transgressoras dos últimos séculos — afinal, o surgimento do verso livre não representou o fim do verso ou dos seus aparatos descritivos, mas o início de uma nova tradição. Com o amparo de exemplos textuais e análises demonstrativas, o que se pretende, com este minicurso, é abordar três momentos de transgressão em que, segundo Beyers (2001) e Fernandes (2021), os principais versos do verso livre surgiram e se consolidaram: 1. o momento de publicação e disseminação das Folhas de Relva, de Walt Whitman, quando foi sistematizado o Verso Livre Tradicional (ou Clássico); 2. o momento da morte de Victor Hugo, da tradução de Whitman para o francês e da publicação de “Crise de Vers”, de Stéphane Mallarmé, quando foram sistematizados o Verso Livre Polimétrico e o Verso Liberto; e 3. o momento de surgimento do Imagismo, vanguarda poética estadunidense, quando foram sistematizados o Verso Curto e o Verso Livre Novo. Assim, o minicurso se divide em quatro sessões de vinte minutos: a primeira será dedicada a introduzir a problemática dos estudos do verso livre no Brasil o no mundo; a segunda, a terceira e a quarta, a introduzir e debater cada um dos três momentos descritos anteriormente, buscando delinear características marcantes de cada categoria apresentada. Ao longo da abordagem a cada momento e a cada categoria de verso livre, serão analisados e discutidos poemas surgidos nas épocas em questão em contraste com poemas contemporâneos que retrabalham certas técnicas de maneira mais ou menos experimental. Os dez minutos finais serão dedicados à leitura e à discussão de poemas de predileção dos participantes, buscando aplicar os conceitos apresentados e testar a eficiência da tipologia defendida.
João Pedro Moura Alves Fernandes
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INTRODUÇÃO À SEMIÓTICA
O termo Semiótica originou-se na Medicina e era entendido como parte da diagnóstica, ou seja; o estudo dos sintomas (Noth, 1995, p.19), sendo, portanto, muito antigo - (139-199 EC). Posteriormente, outra informação importante sobre a Semiótica encontra-se no Essay on human undestanding (1690), de John Locke. Esses são apenas alguns exemplos da longa existência da Semiótica, cujos estudos podem ser divididos em avant e depuis la lettre, ou seja; antes e depois de seu assentamento definitivo. Os estudos semióticos desenvolveram- se grandemente nos Estados Unidos a partir das proposições de Charles Sanders Peirce (1839- 1914), na Russia com Juri Lotman (1922-1993), na Dinamarca com Louis Trolle Hjelmslev (1899-1965), na França com Ferdinand de Saussure (1857-1913) e Algirdas Julien Greimas (1917-1992), na Itália com Umberto Eco (1932-2016), entre outros. Esses estudiosos, cada um a seu turno, de acordo com a visão teórica que possuíam, propuseram ou desenvolveram conceitos fundamentais da Semiótica Filosófica, da Semióticas das Culturas, da Semiótica Discursiva ou da Semiótica Interpretativa. Com muitos ramos e aplicações, a Semiótica já foi chamada de a teoria da mentira (Eco, 1993, p. 17). No entanto, para aqueles que nela se iniciam, é possível notar a complexidade e a beleza de um mundo semioticamente construído, ou seja; uma vasta semiosfera com efeitos omniefáveis; nas palavras de Eco (2001, p. 44), omniefável, isto é, capaz de exprimir toda a nossa experiência, física e mental, e portanto de expressar sensações, percepções, abstrações e responder até mesmo à indagação por que haja o Ser em lugar do Nada. Para além da sua precisão metodológica, cabe ao semiótico o domínio de uma terminologia que ainda é, muitas vezes, hermética aos principiantes, e não somente, nesse campo de estudo. A proposta do minicurso é apresentar uma pequena viagem por esse mundo no qual a semiótica anda de mãos dadas com a linguística, simplesmente, porque não podem andar separadas, como nos disse o grande mestre Cidmar Teodoro Pais (1940-2009).
Carmem Praxedes
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